20 de mai. de 2012

[Especial] 1972 (Campeão Mineiro) - A vitória de Dirceu

   Enquanto Dirceu Lopes jogar, só deseja uma coisa: participar de todas as partidas decisivas. Ficar de fora machucado, ver os companheiros atrás da bola, não poder colaborar para a vitória, é o sofrimento maior que o futebol pode lhe oferecer. Foi tudo isso que ele compreendeu no dia 7 de setembro, quando, sentado no banco do Cruzeiro, viu seus companheiros ganharem mais um título de campeões mineiros.

"Olha lá o Piazza, correndo demais. Bem que eu poderia fazer aquela triangulação. Acho que dava certo."
   
   Ao comentar cada lance, a luta dos companheiros, Dirceu Lopes tinha uma convicção: o Cruzeiro não perderia a decisão para o Atlético. Ele não sabia explicar o motivo de tanta confiança, mas alguma coisa lhe segredava que as bandeiras estreladas continuariam por cima, como afirmou no dia em que Cruzeiro, Atlético, América e Atlético de Três Corações começaram a disputar o título.

"Boa, Palhinha. Vai em frente, procure o gol, como nos treinos."
  
   Palhinha parecia ouvir o pedido de Dirceu. Palhinha estava no lugar exato quando Roberto Batata, de cabeça, entregou-lhe uma bola redondinha. Era o primeiro gol do Cruzeiro. Dirceu Lopes não se conteve e deu um salto. Nem parecia estar com a perna direita engessada.

"Eu falei, eu falei. O Cruzeiro vai ser campeão."

   O médico Neilor Lasmar lhe pedia calma, que ficasse quieto.

"Só agora dou razão à torcida. Ser torcedor é sofrer demais. Não posso me conter, doutor. Meus companheiros estão na guerra, preciso ajudar."

   Dirceu daria o que lhe parecia o grito decisivo de vitória no segundo tempo. O Cruzeiro dominava o jogo, mas, no lance mais bonito até então, Serginho chuta. A bola bate no travessão e já vai entrando, quando Darci Meneses aparece para cortar sua trajetória.

   O grito de Dirceu foi em vão. Dario pega a sobra e, de meia bicicleta, empata a partida. Os jogadores do Cruzeiro ficam desolados, mostram-se meio perdidos em campo. Capenga, Dirceu se levanta e grita:

"Piazza, fale com eles que hoje é dia de vitória. De vitória, Piazza!"

   Não foi preciso Piazza falar nada. O grito de Dirceu parece ter explodido no Mineirão. Os companheiros olham para ele, pedem que ele se acalme, que espere.

   Aos 9 minutos do segundo tempo da prorrogação, a vitória de Dirceu Lopes. Eduardo, arma secreta de Hílton Chaves, cobra um córner na medida, como sempre faz nos treinos. Novamente Palhinha está no lugar certo. Mazurka, desesperado, vai buscar no fundo das redes a bola cabeceada pelo atacante. A torcida do Atlético sente a derrota.

"Torço demais pelo Palhinha. Ele precisava desse gol."

   Agora, a briga. O jogo pára durante cinco minutos. A bola volta a rolar. Dirceu olha mais os ponteiros do relógio. Sílvio Davi apita pela última vez.

   Ninguém combinou coisa alguma, mas a violência que tirara da final o maior jogador mineiro merecia uma resposta à altura. E o Mineirão em peso gritava: "Dirceu é campeão", "Dirceu é campeão!"

   Carregado pelos companheiros, Dirceu dá a volta olímpica. Perna quebrada pela violência dos que não sabem que futebol é amor à bola, Dirceu mais do que nunca esteve dentro de campo correndo contra o Atlético.

07/09/1972 MINEIRÃO (BELO HORIZONTE)
Cruzeiro 2 x 1 Atlético
Árbitro: Sílvio Davi
Público: 63.011
Gols: Palhinha (36 do 1º); Dario (28 do 2º); Palhinha (9 do 2º tempo da prorrogação)

Cruzeiro: Hélio, Lauro, Darci Meneses, Fontana e Vanderlei; Piazza e Zé Carlos; Roberto Batata, Luís Carlos (Eduardo), Palhinha e Lima. T: Hílton Chaves

Atlético: Mazurkiewicz, Oldair, Raul Fernandes, Vantuir e Cláudio; Vanderlei e Toninho; Guerino (Serginho), Dario, Lola e Romeu. T: Telê Santana


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